1/31/2015

camelacabraputaporcanojenta

Esta semana a minha mãe decidiu pôr este poema online.
Escrevi-o quando tinha cerca de 12 anos.

se eu soubesse dançar
se conseguisse dançar como uma bailarina
vestia-me como um pássaro
e se soubesse voar tanto como eles
andava depressa agarrada ao vento.
E se pudesse saber e conseguir
enrolava-me nas tuas pernas
para que quando caminhasses
me levasses contigo
nos teus segredos de menina tão menina.
E quando não mais soubesses andar
por não mais tão menina seres,
dançava para ti histórias e levava-te a voar,
vestida como os pássaros que nunca souberam dançar.

Eu escrevia poemas de amor quando era miúda, numa espécie de catarse deitava cá para fora chorrilhos de palavras, quão mais sonhadora fosse a minha visão do mundo. Tinha a mania de por títulos em tudo e de falar sobre o mar (ou até onde os olhos iam) e crianças (ou até onde a minha realidade social se esticava). Assinava A.M., e a verdade é que ana maria, essa pindérica, não morreu. Continuo a achar que tudo pode ser para sempre, a querer contradizer a morte e a esperar, sem dúvida, experimentar os extremos de uma vida com amor de manhã à noite.

Vou deixar-me de disclaimers para quem acaba de me conhecer. Venham os queixumes da minha brusquidão, do meu sangue frio e da brutalidade dos verbos que escolho conjugar. Quero que se fodam as flores de estufa, pois temos claramente formas diferentes de lidar com a profusão de sentimentos que nos caem no colo sem pedir licença. De cada qual, segundo a sua capacidade; a cada qual, segundo as suas necessidades. Já dizia Marx.*

A.M.


*
sim, pode não fazer sentido. 
sim, ele não estava propriamente a falar do mesmo que eu. 
who cares?


1/27/2015

desconfianças mútuas

desconfio que vá perder-me e esquecer-me de quem sou, deste lugar em que me dou mas onde nem sempre vou estar. desconfio do quanto durarei, dez, vinte, trinta anos, mais dois dias? não quero afirmar, mas pode acontecer uma morte antecipada. desconfio desta personagem que me arrasta dias fora, mas admito ficar quanto mais o tempo permitir. acima de tudo, tentarei manter-me à tona.

nota: tudo em fluorescente fica assim, verde.

1/20/2015

Metáforas para a Condução de um Destino — Lição 25

da Coleção "Constelações de Constatações"

 Da mesma forma que o consumo de bebidas alcoólicas não convém ser precedido de qualquer tipo de condução, se não dormir também não se aconselha andar a pé, e se estiver a chover copiosamente, jamais sair de casa, correndo o risco de, na recusa de todos estes ensinamentos, partir o cóccix ou vazar a vista a alguém. A par disto, deverá garantir que ao efectuar uma viagem de comboio às 6 da manhã, com a duração de três horas, não fica sentado em frente a uma criança de dois anos com demasiado açúcar no sangue.

Próxima lição: Comer em tupperwares nos jardins da Gulbenkian.
(dicussão aberta sobre a crise cultural da grande e média burguesia, com uma seleção das melhores receitas frias para transporte)




1/19/2015

A Condenação da Verbalização — Lição 1

da Coleção "Constelações de Constatações"

Excreções emocionais impulsivas são regra geral, altamente condenáveis. Ora porque a época de caça ainda não começou, ora porque a nossa tarifa não cobre o horário escolhido para lavar a roupa suja. Não há, no entanto, problema de maior com este mortalmente comum faux-pas, sendo apenas a sua digestão mais trabalhosa que o habitual sarcasmo lírico.

Próxima lição: O nicho dos libertos é apenas um mito.
(aqui iremos perceber que quase toda a gente fala durante o sono e vive bem com isso)




1/07/2015

nada como a podridão de sempre


cheira

a

mofo

no

corpo

amorfo

1/03/2015

gato por lebre


Feliz ano novo.
Fui enganada, e quando digo enganada refiro-me a um barrete bem enfiado, daqueles que não deixam respirar. Dezoito euros mais tarde por comida execrável, foi tudo fantástico. O álcool ajuda sempre.