2/23/2015

a velha saga


dizia a velha saga, à saga mais nova

não sejas assim, olha que sago à mais tempo que tu e sei do que falo.  
não desistas do ócio tão facilmente e continua aflita 
a desmaiar na vida dos outros. 
saga que é saga, não abandona o posto

mas a saga mais nova, como verdadeira chata que era, 
resmungava que não. 
desta vida não queria mais nada, apenas viver horizontalmente,
a paz no mundo e a calma dos povos

e a saga mais velha desesperada, 
sagava um pouco mais

sabes, todos já quisemos desistir.
bem mais fácil é relaxar, do que continuar a sagar 
numa errância sem fé

a saga mais nova anuia então à saga presente
e continuava eterna na sua visão demente
que apenas os benditos saberão terminar heroicamente 
as aventuras dos outros, 
eternas sagas moribundas

   

david shrigley

2/18/2015

maus da fita


o primeiro a chegar a qualquer lado 
é quem manda.
o último a gritar "a culpa é tua", 
também.



2/17/2015

entre a gente

Falar de mais sempre foi um problema. Na pós graduação de antropologia, que morreu antes de se formar um mestrado, avisaram-me que argumentava muito rapidamente, e que por vezes convinha pensar um pouco antes de debitar semelhantes deliberações. Esta pessoa, que muito prezo, compreendia que este ser tinha essa forma, como já antes discutimos, mas que ainda assim, talvez não fosse menos mau fechar a boca uma vez por outra. Dois anos passaram desde este conselho, resultados práticos no dia a dia desta jóia banhada a sabedoria d'oiro?

Zero a nenhum. Ainda acho que sei imensa coisa.


2/12/2015

"não à repressão das forças policiais"

ao qual se acrescenta,
 
não à repressão de toda e qualquer manifestação
não à repressão da mente, do corpo e da vontade da forma
não à repressão de mim próprio, do outro ou daqueloutro
não à repressão das massas, das minorias e dos avulsos
não à repressão dos verbos, dos substantivos e dos nomes próprios
não à repressão do tempo ou do espaço
não à repressão moralista, intimidante, dilacerante
que faz de todos nós humanos, animais.

Cannibals Gazing at Their Victims — Goya

2/09/2015

táctil


a queda no absurdo 
— não do absurdo —
quando chego
ao momento absoluto 
da não mundaneidade
que é admitir
gostar
das tuas mãos. 

2/03/2015