4/15/2015

Não nada.

Perder o pé e a mão, de novo, e como sempre sofrer da frustação descontrolada causada pelo caos desarmonioso de um quotidiano sujo de todo e qualquer desinteresse próprio e alheio.

Pelo menos a escrita fica melhor.


4/08/2015

Genético ou Hereditário


Exercitar
Não fumar
Socializar
Controlar 
o colestrol
Comer bem
beber menos
Vigiar
a tensão
Evitar
doenças várias
Tratar
dos nervos
Manter 
as paixões

Viver,
depois morrer




3/25/2015

o cansaço (antes que o mês acabe)

Tenho a imaginação cansada, disse ela.
Para jantar só um bolo, disse ele.

Apneia do sono, obesidade, mau humor e falta de vontade
Com a idade tudo se justifica.

No mau gosto aplacado, apenas pela falta de conhecimento e a ignorância atroz
Admitem o sacrilégio.

Faço tudo o que acho que me apetece disse ela.
A mim falta-me o ar disse ele.


não me lembro.
















2/23/2015

a velha saga


dizia a velha saga, à saga mais nova

não sejas assim, olha que sago à mais tempo que tu e sei do que falo.  
não desistas do ócio tão facilmente e continua aflita 
a desmaiar na vida dos outros. 
saga que é saga, não abandona o posto

mas a saga mais nova, como verdadeira chata que era, 
resmungava que não. 
desta vida não queria mais nada, apenas viver horizontalmente,
a paz no mundo e a calma dos povos

e a saga mais velha desesperada, 
sagava um pouco mais

sabes, todos já quisemos desistir.
bem mais fácil é relaxar, do que continuar a sagar 
numa errância sem fé

a saga mais nova anuia então à saga presente
e continuava eterna na sua visão demente
que apenas os benditos saberão terminar heroicamente 
as aventuras dos outros, 
eternas sagas moribundas

   

david shrigley

2/18/2015

maus da fita


o primeiro a chegar a qualquer lado 
é quem manda.
o último a gritar "a culpa é tua", 
também.



2/17/2015

entre a gente

Falar de mais sempre foi um problema. Na pós graduação de antropologia, que morreu antes de se formar um mestrado, avisaram-me que argumentava muito rapidamente, e que por vezes convinha pensar um pouco antes de debitar semelhantes deliberações. Esta pessoa, que muito prezo, compreendia que este ser tinha essa forma, como já antes discutimos, mas que ainda assim, talvez não fosse menos mau fechar a boca uma vez por outra. Dois anos passaram desde este conselho, resultados práticos no dia a dia desta jóia banhada a sabedoria d'oiro?

Zero a nenhum. Ainda acho que sei imensa coisa.


2/12/2015

"não à repressão das forças policiais"

ao qual se acrescenta,
 
não à repressão de toda e qualquer manifestação
não à repressão da mente, do corpo e da vontade da forma
não à repressão de mim próprio, do outro ou daqueloutro
não à repressão das massas, das minorias e dos avulsos
não à repressão dos verbos, dos substantivos e dos nomes próprios
não à repressão do tempo ou do espaço
não à repressão moralista, intimidante, dilacerante
que faz de todos nós humanos, animais.

Cannibals Gazing at Their Victims — Goya

2/09/2015

táctil


a queda no absurdo 
— não do absurdo —
quando chego
ao momento absoluto 
da não mundaneidade
que é admitir
gostar
das tuas mãos. 

2/03/2015

1/31/2015

camelacabraputaporcanojenta

Esta semana a minha mãe decidiu pôr este poema online.
Escrevi-o quando tinha cerca de 12 anos.

se eu soubesse dançar
se conseguisse dançar como uma bailarina
vestia-me como um pássaro
e se soubesse voar tanto como eles
andava depressa agarrada ao vento.
E se pudesse saber e conseguir
enrolava-me nas tuas pernas
para que quando caminhasses
me levasses contigo
nos teus segredos de menina tão menina.
E quando não mais soubesses andar
por não mais tão menina seres,
dançava para ti histórias e levava-te a voar,
vestida como os pássaros que nunca souberam dançar.

Eu escrevia poemas de amor quando era miúda, numa espécie de catarse deitava cá para fora chorrilhos de palavras, quão mais sonhadora fosse a minha visão do mundo. Tinha a mania de por títulos em tudo e de falar sobre o mar (ou até onde os olhos iam) e crianças (ou até onde a minha realidade social se esticava). Assinava A.M., e a verdade é que ana maria, essa pindérica, não morreu. Continuo a achar que tudo pode ser para sempre, a querer contradizer a morte e a esperar, sem dúvida, experimentar os extremos de uma vida com amor de manhã à noite.

Vou deixar-me de disclaimers para quem acaba de me conhecer. Venham os queixumes da minha brusquidão, do meu sangue frio e da brutalidade dos verbos que escolho conjugar. Quero que se fodam as flores de estufa, pois temos claramente formas diferentes de lidar com a profusão de sentimentos que nos caem no colo sem pedir licença. De cada qual, segundo a sua capacidade; a cada qual, segundo as suas necessidades. Já dizia Marx.*

A.M.


*
sim, pode não fazer sentido. 
sim, ele não estava propriamente a falar do mesmo que eu. 
who cares?