1/16/2005

primos por inconveniencia

Foi assim que te conheci, na casualidade de uma cama de casal e uns lençóis roçados na pior pensão ao pé do rio. Pensão Presidencial, no Cais do Sodré.
Coisa suja, imunda, transpirada.
E nós ficámos lá, agarrados no suor, inconvenientes nas palavras e inconstantes nos gestos. Rimos.
As luzes foram se calhar demasiado fortes, os risos demasiado altos e os toques demasiado leves. Perdemo-nos na noite e encontrámo-nos de madrugada, encostados a um cheiro estranho. Eu e Tu. Na pior pensão ao pé do rio.
Porque só resolvi pegar em ti agora, chamar-te de primo e ter saudades tuas...eu não sei. Faz parte das coisas que acontecem de repente. De repente acordo e sinto-me à disposição do mundo, e tu calhaste nele. Foste um dia o meu mundo.
Destesto a tua maneira de falar, as tuas expressões, o teu riso. Há umas palavras que me incomodam até o estomago e tu sabes dizê-las todas as vezes que estou contigo. Magia.
Falas demasiado e demasiado inapropriadamente. Ficámos por isso, primos por inconveniência.
Amas-me com a mesma força que me detesto.

2 comments:

Manel Furtado said...

Na angústia beliscam-se as costas do outro e fartas-te do que te bate dentro da cabeça como sinos que soltam palavras repetidas e gritantes. Lembras-te da inconveniência mas não te lembras muito do ri(s)o... Estranho.

ana said...

se calhar o ri(s)o era fingido e a inconveniência por isso incómoda*