Era uma vez uma história. Uma história normal que se contava num dialecto próprio e um inventado. Um para quem de si gostasse, os loucos. Outro para quem nada interessasse, de palavras fáceis trocadas. Mas a história cresceu má. Ou cresceu esquisita. Ninguém diria.
Não sabia se inventara memórias ou se as tinha de verdade. Mentia tão compulsivamente que roubava palavras doutros. E não podia contar isso, de nada saber sobre crescer. Tudo era fruto nascido de um impulso caótico. A vontade incontrolável de agarrar independência. Ser completa, inteira em si. Ser capaz na falta de tudo e de nada provar-se só. E a história engoliu-se.
E a mesma história gostava de pintar, gostava de ilustrar o que contava. Desejava tantas coisas que não queria fazer escolhas, se erradas eram mesmo. Não havia mal, porém, escolher errado quando errado também era certo. E vivia de uma memória de peixe, a história caótica. Esqueceu-se do que queria ter sido e não era, do que queria ter dito e não disse, do que queria ter feito e fez mesmo. Engolida em si fez tudo o que queria. Quem a guardava nos braços queria que voasse, e ela voou. E de viver no ar perdeu-se. Em contradições perguntava se poderiam uma avestruz e um pinguim pesado casarem. E ninguém sabia.
Escapou-se a história, porque as coisas não são bem assim. Sabe-lhe mal a vida na difuldade de lidar com a terra e o ar. Dói-lhe onde nem tudo são heróis, onde nem tudo é doce de açucar. Depois, custou-lhe estar sempre no ar. Custou-lhe a desorganização, as raizes flutuantes de quem precisa sempre de água. E expirou-se. Vive com a alma trocada de quem cresceu dentro de si e tenta ser regular. Promete nunca mais roubar vidas e nunca mais se contar em ruas paralelas. E diz saber de pedir desculpa e saber de amar e saber de sentir coisas.
Diz ser uma história, a saber que mente.
3/05/2005
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