3/06/2005

storyteller2

Facas, um medo de cortar esquisito. Era uma vez, outra vez, uma ameaça de morte. Olhos que viram facas apontadas e ameaças de desprazer.
Um avião que tinha sopa lá dentro e como não gostava de sopa disseram-lhe que eram pessoas de chocolate. E soube tão bem, como saberia sopa de chocolate.
Beijos, perguntar-se se quando as pessoas se amam dão beijos. E porque nunca viu isso. Procurar espreitar durante a noite os ruídos das portas, mas só conseguir sonhar com um cão ladrão. Cão ladrão de meninas assustadas. E escadas, escadas em caracol. Onde caía todas as noites, a rebolar até o fim. Onde lhe esperava a boca do cão.
Granizo, na casa cor de vinho. Pensar para sempre que branco transparente e cor de vinho combinam bem. Tudo absorvido. Na serra ser quente, mais abraços porque lá faz frio.
Socos no estômago, sem querer. Na estrada, gritos esmagados na velocidade dos carros. E vergonha, vergonha de também crescer assim. Desiquilibrado nos dois pés. Não poder contar a ninguém e chorar. Chorar tanto que se promete não chorar mais. Como vomitar, também como vomitar.
A carne nas brasas, sabor de pão e sangue. Amigos, e crescer a saber que sabem bem. Não se importar por ser mau porque amigos são de qualquer maneira. E alguns serão maus também. Ninguém discute isso, porque se amam e a quem se ama só se gritam coisas parvas. Não se chatear por pegar mal nos talheres. Abandonar a carne.
Das escadas ouviu-se tudo. As que que não são em caracol. A noite a dar à luz à lua num buraco no tecto. E do buraco partir-se a tela um dia e estar lá um menino. E uma menina a chorar tanto por pensar morrer. Até ser tudo um susto e aprender que nunca mais se está só. De um nascimento crescer uma maldição, amar até que a morte os separe. E além, além...

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